terça-feira, 22 de abril de 2008

Questão social

Apenas um entretenimento ou um meio de controlar mentes e corações das massas, colaborando para eleger políticos ou ditar tendências? Essa é só uma das polêmicas que envolvem esse aparelho que já foi um artigo de luxo e hoje pode ser adquirido em qualquer loja de eletroeletrônicos, em suaves prestações. Trata-se da televisão. Ou melhor, o suposto poder que este veículo tem. É evidente que várias pessoas são influenciadas pela TV. Isso é resultado de características como o imediatismo, a superficialidade e o formato simples, que permitem a todos entenderem a mensagem passada. Tais fatores ainda são responsáveis por darem aos homens modernos a sensação de que eles são muito bem informados, mas, na verdade, eles não sabem nada, são incapazes de emitir pensamento crítico. Outro fator que pode contribuir para esse poder é a capacidade que a TV tem de brincar com o real, pois um fato só vai ter realmente importância se vira notícia. A abrangência da televisão, que diferente do poder público, alcança a maioria das cidades desse país, também é uma importante aliada para essa “dominação”.

O entendimento do que é veiculado na TV depende do repertório individual de cada pessoa, ou seja, seu nível de cultura. Mas, num país em que grande parte da população é analfabeta e mesmo que consiga ler, não é capaz de entender o que estava escrito, a televisão, com seus textos diretos e simples, com os apresentadores de telejornais desejando “boa noite” todas as noites e com suas imagens para dar mais vida às transmissões, vai “democratizar” o acesso à informação. E isso de maneira imediata e superficial, sem que o telespectador tenha que pensar muito, pois não lhes é dado esse tempo para reflexão.

Essa superficialidade será responsável pela síndrome de Homer Simpson: nela o homem moderno tem acesso, de forma rápida e resumida, a todas as informações, mas não formula pensamentos críticos. Os telejornais se mostram como continuação das novelas, repletos de dramas e entretenimento. Num mesmo bloco noticiam uma chacina e logo em seguida os bastidores do show de um artista famoso. Coerência? Nenhuma. E, surpresa, no final do telejornal as pessoas em casa são contempladas com o esquecimento para que elas não durmam preocupadas. Quer preocupação? Veja as brigas do médico do Big Brother e as discuta no dia seguinte. Talvez seja uma estratégia, porque muitos choram com os dramas das novelas, ficam felizes quando alguém que ele nem conhece ganha um milhão e são incapazes de lamentarem o sofrimento que milhões de pessoas passam na vida real.

Mas, o que é real? O encanto da TV é tanto que um fato só vai adquirir importância se for transformado em notícia, nem que seja uma notinha dada pela Globo ou qualquer outro canal de televisão.

Mas, a maior característica da televisão é a sua abrangência. Esse é o maior diferencial. Ela chega onde o poder público esqueceu ou faz questão de lembrar apenas na época das eleições. E o que é mais importante, a televisão inclui, leva esperança e transporta para dentro das casas a sensação de que todos podem vencer. Ela cria e copia moldes da cultura americana, que não se encaixam na realidade brasileira, mas são aceitos e seguidos.

Portanto, apesar do formato simples que favorece a alienação e não induz ao pensamento crítico e da capacidade de brincar com o real, o maior poder da televisão está na capacidade de abarcar os excluídos do Brasil. E é esse diferencial que os políticos usarão para, de maneira simples, entrarem nas casas das pessoas e se tornarem mais um, alguém igual a eles. É essa capacidade que tornou o mundo algo bem pequeno e que faz com que todos tenham que ser do mesmo jeito, usarem as roupas das atrizes das novelas, comprarem os mesmos colares. E, se não tiverem dinheiro, ficarem em casa sonhando em ter ou então irem para as ruas roubar, matar. O maior poder que a televisão tem é o problema social que assola o país, é o analfabetismo e a pobreza que não permitem que a maioria das pessoas tenham conhecimento para questionem os rumos da TV. Sem estudo, sem comida e sem emprego a única coisa boa que resta é a novela, seja ela a fictícia ou a da vida real, exibida nos telejornais.

Por: Sulaine Reis